Bahia quer aumentar pesquisadores nas empresas

Com uma Lei Estadual de Inovação prester a ir para a Assembléia Legislativa e um investimento de R$ 100 milhões até 2010, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia pretende alavancar a Inovação na Bahia, que segundo o diretor de Inovação, Elias Ramos de Souza, está aquém da importância do Estado.

Em entrevista exclusiva à Revista Sustentabilidade, Souza afirmou que o Estado precisa acabar com a defasagem de pesquisadores nas empresas, as maiores responsáveis por inovação em outros países. Para isto, o diretor defendeu que o poder público deve incentivar financeira e legislativamente as empresas, e citou a Lei Estadual de Inovação que será apresentada em maio na Bahia.

Revista Sustentabilidade: O que é inovação para o senhor?

Elias Ramos de Souza: A inovação conceitualmente é uma coisa muito ampla. A inovação é desde você criar um equipamento até o momento inexistente, até melhorar um produto e mesmo adquirir um novo equipamento para melhorar a sua produtividade.

Revista Sustentabilidade: Como o senhor vê o investimento estratégico em P, D & I?

Souza: O investimento em ciência e tecnologia é um investimento estratégico. Para o país e para nosso estado particularmente, são investimentos que muitas vezes demoram até amadurecer mas é um investimento fundamental e a história mostra isto.

Com este tipo de investimento você produz conhecimento, forma especialistas em áreas que são importantes. Aliado a isto, existe todo o esforço para apoiar iniciativas, projetos que sejam revertidos para a população.

Revista Sustentabilidade: Como está o investimento público e privado em C&T?

Souza: Há uma defasagem no nosso caso [Brasil]. Nós temos investimento público de 0,6 do PIB e o investimento privado fica em torno de 0,4 do PIB, quando nos países mais avançados estes investimentos privados vão a mais de 1,5, próximo a 2% do PIB.

O Brasil tem um investimento público em C&T, com recursos vindos de fontes governamentais, que está no patamar dos investimentos realizados pelos países desenvolvidos. Nóss investimos cerca de 0,6 do PIB em C&T no Brasil, mas o investimento privado está no patamar dos países mais subdesenvolvidos porque, se nós olharmos o investimento do Japão, dos Estados Unidos, também é próximo de 0,6 do PIB, oriundos de fontes públicas. Mas o investimento empresarial é um investimento que representa cerca de dois terços do total de aportes financeiros do país.

Revista Sustentabilidade: Como corrigir esta defasagem?

Souza: Por meio de programas governamentais e incentivos que levam a inserção dos investimos privados na inovação, que é uma questão estratégica para o desenvolvimento de qualquer país.

Revista Sustentabilidade: Qual o resultado que o senhor consegue perceber sobre inovação na Bahia?

Souza: Nossos indicadores de inovação na Bahia estão aquém do necessário. Nós temos hoje o sexto maior PIB brasileiro, que corresponde a quase 5% do PIB nacional e nossos indicadores tecnológicos, que levam em conta número de patentes, número de empresas inovadoras, estão bem abaixo destes 5%. Nós registramos cerca de 1% das patentes do país, de acordo com o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual e notamos uma defasagem entre o porte da economia baiana e a inserção de tecnologia dentro das organizações produtivas.

Revista Sustentabilidade: Como melhorar esta situação?

Souza: Nós temos atuado no marco legal, finalizando a escrita da Lei de Inovação baiana, que vai ser proposta pelo governador do estado à assembléia legislativa, provavelmente no mês de maio. Nós já estamos fazendo as análises finais para submetê-la à Assembléia Legislativa. Nós também regulamentamos o Inovatec, que é um programa de apoio à inovação operacionalizado diretamente pela secretaria de ciência e tecnologia e inovação.

Revista Sustentabilidade: O que é o Inovatec?

Souza: Este inovatec, além de contar com o fundo de recursos que totalizam R$ 60 milhões para apoio à inovação em empresas e universidades, tem incentivos legais de incentivos à Inovação como o deferimento de ICMS na importação de equipamentos utilizados para a inovação tecnológica.

Revista Sustentabilidade: Como assim?

Souza: A empresa que compra um equipamento para inovação tecnológica pode ter adiado o pagamento do ICMS por alguns anos, além de outras iniciativas no âmbito legal.

Revista Sustentabilidade: Quais outras iniciativas?

Souza: Além disto nós temos na Fapesb a subvenção de apoio à pequenas empresas que disponibiliza R$ 16 milhões. Temos o programa pesquisador na empresa, em pareceria com o cnpq que disponibiliza R$ 1,5 milhão. O edital de apoio a Sistemas locais de inovação. E outras iniciativas que visam apoiar a inovação principalmente nas empresas e em universidades e centros de pesquisa do estado da bahia.

Revista Sustentabilidade: A Bahia já possui uma “cultura de inovação”?

Souza: Esta questão está começando a engatinhar na Bahia. Nós estamos numa fase inicial e isto depende de vários fatores. Esta cultura é algo que vem desde as universidades. Nós temos algumas universidades [no Brasil] que estão mais abertas que outras. A Unicamp é um exemplo de universidade que sempre teve este perfil. É a maior depositante de patentes no Brasil. E outras universidade estão acordando parta esta questão, inclusive na Bahia.

Revista Sustentabilidade: Como o senhor vê a função das empresas na questão de inovação?

Souza: Se você pensar bem, inovação é algo vai trazer benefícios para o estado por meio do benefício que os próprios empresários terão, porque o mundo tem mostrado que empresas inovadoras, são empresas que possuem maior lucro e isto é feito por meio da disseminação da cultura de inovação, mas deve ser feito também por meio de medidas concretas por parte do governo que visem estimular a inovação nas empresas.

Revista Sustentabilidade: Como o Poder Público tem incentivado as empresas a investirem em inovação?

Souza: O governo geralmente tem programas de apoio à inovação na fase de maior risco de inovação que é a parte de pesquisa. É comum nos países, principalmente nos países mais desenvolvidos, que esta fase que envolve agregação de conhecimento na construção de novos produtos, conte com programas governamentais de apoio, mas outras modalidades também contam com o investimento empresarial.

Revista Sustentabilidade: Como está a relação entre academia e as empresas?

Souza: É um problema grande nosso, porque a inovação é algo que ocorre, pelo exemplo de outros países, nas empresas. Até se gera muita tecnologia na universidade mas para ir para o mercado, que é quando a inovação se concretiza, isto ocorre através das empresas. As universidades tem mais o papel de realizar pesquisas básicas ou mesmo pesquisas aplicadas mas numa fase que precede a comercialização de novos produtos e processos no mercado.

Revista Sustentabilidade: Como estreitar esta relação?

Souza: Nós temos que formar mais pesquisadores e criar espaço para que estes pesquisadores venham trabalhar nas empresas.

Revista Sustentabilidade: Quais as ações da Fapesb para auxiliar neste processo?

Souza: Estes programas que temos implementado são programas que tem claramente este objetivo dentre outros, como o programa pesquisador na empresa, que visa oferecer bolsas a mestres e doutores para que eles integrem núcleos de inovação dentro de indústrias. Outro programa, o pappe subvenção permite que as empresas utilizem os recursos para contratar mais pesquisadores. Também damos a possibilidade de pesquisadores se licenciarem por um certo período para desenvolver projetos inovadores em empresas. Além de outros instrumentos que aparecem na lei de inovação do governo federal que vão aparecer na lei de inovação baiana que visam estreitar os laços entre universidade e empresas.